Venezuelanos de todo o país saíram às ruas na segunda-feira (29), para protestar contra uma eleição disputada, entrando em confronto com a polícia enquanto a incerteza gira em torno dos resultados em meio a alegações de fraude eleitoral. A eleição de domingo foi a mais importante em anos, com o futuro da Venezuela em jogo.
Muitos jovens apoiadores da oposição disseram que deixariam o país se o líder autoritário Nicolás Maduro fosse reeleito, apontando para o colapso devastador da economia do país e a repressão violenta sob o seu governo. Mas a oposição também se mostrou energizada, apresentando ao establishment governante o seu maior desafio em 25 anos.
Embora Maduro tenha prometido eleições justas e livres, o processo foi marcado por alegações de irregularidades – com figuras da oposição detidas, o principal líder da oposição proibido de concorrer, meios de comunicação bloqueados e venezuelanos estrangeiros em grande parte impossibilitados de votar.
É por isso que, embora Maduro tenha sido formalmente nomeado vencedor pelo órgão eleitoral do país – que é constituído pelos aliados do presidente – a oposição rejeitou os resultados e outros líderes latino-americanos se recusaram a reconhecer a sua vitória.
Quem está concorrendo contra quem?
Maduro está no poder desde a morte de seu antecessor, Hugo Chávez, em 2013. Se ele assumir novamente o cargo, será o seu terceiro mandato consecutivo de seis anos e a continuação do “Chavismo”, a ideologia populista de esquerda que leva o nome do antigo líder.
Do outro lado está um movimento de oposição unificado que superou as suas divisões para formar uma coalizão. A sua campanha energizada alimentou a esperança entre uma população desiludida que estava desesperada por mudanças, num país numa situação econômica tão difícil que cerca de 8 milhões de venezuelanos fugiram para o exterior.
O candidato da oposição, o antigo diplomata Edmundo González, assumiu o cargo depois de a líder muito popular María Corina Machado ter sido impedida de concorrer, na sequência de alegações de que ela não incluiu recibos de ganhos com benefícios alimentícios na declaração do imposto de renda.
Mas muitos ainda a veem como uma força motriz por trás da oposição, que prometeu restaurar a democracia na Venezuela e reconstruir a sua outrora impressionante economia se vencesse.
Quem ganhou?
Os resultados são contestados. Oficialmente, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro o vencedor na noite de domingo, com 80% dos votos contados. Disse que Maduro obteve 51,2% dos votos, enquanto González recebeu 44,2% dos votos.
A CNE ainda não divulgou a contagem final dos votos.
Mas a oposição rejeitou os resultados, alegando que as suas próprias contagens mostravam que González tinha vencido. Na segunda-feira, eles disseram ter obtido mais de 73% dos editais mostrando mais de 6 milhões de votos para González e apenas 2,7 milhões para Maduro.
Falando na capital, Caracas, González e Machado disseram que todas as suas contagens foram verificadas e partilhadas online para o público e os líderes globais verem – algo que os líderes mundiais e figuras da oposição apelaram à CNE.
Quais são as alegações de crime?
Os líderes da oposição denunciaram supostas irregularidades no domingo (28) enquanto os votos eram processados e contados.
A oposição disse que foi negado às suas testemunhas o acesso à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) durante a contagem dos votos; a sua presença deveria garantir transparência e justiça.
Apenas um número muito limitado de observadores eleitorais foi autorizado a monitorar a votação. Entre eles, o Carter Center, que apelou à CNE para publicar os resultados detalhados dos votos, dizendo que a informação era “crítica para a nossa avaliação”.
As Nações Unidas também estiveram presentes, tendo um porta-voz afirmado posteriormente que o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou à “total transparência” e ao órgão eleitoral que “realize o seu trabalho de forma independente e sem interferências para garantir a livre expressão da vontade do eleitorado”.
A oposição alegou também que a CNE tinha interrompido o envio de dados das assembleias de voto para o órgão central, impedindo assim o processamento de mais votos.
O governo também foi acusado de fraude eleitoral no passado, o que negou. O governo de Maduro controla quase todas as instituições estatais, incluindo a CNE, que foi acusada em 2017 de manipular os números da participação eleitoral por uma empresa de software que fornecia a tecnologia de votação. A CNE negou anteriormente a afirmação.
A CNN entrou em contato com a CNE para comentar o assunto na segunda-feira. O órgão ainda não abordou as alegações da oposição.
Com informações de CNN Brasil